“Retrato” | Poema de Cecília Meireles

Toda filosofia, no fundo, é um olhar lançado sobre si mesmo. E poucos poetas brasileiros nos convidam a esse exercício de forma tão límpida e sensível quanto Cecília Meireles (1901-1964). Figura central do Modernismo em sua segunda fase, Cecília foi uma das vozes mais singulares e atemporais da literatura brasileira, tecendo versos que flutuam entre o onírico, o existencial e a fina ironia sobre a condição humana.

A nota de 100 Cruzeiros Novos com o rosto de Cecília Meireles foi lançada em 1991 e circulou até sua substituição pelo Cruzeiro Real em 1993. Via wiki commons

É nesse universo de reflexão sutil que encontramos o poema que será o nosso espelho de hoje. Conhecido popularmente como “Rosto”, ele é, na verdade, o célebre “Retrato”, publicado no marco de sua obra, o livro “Viagem” (1939).

A publicação de Viagem rendeu à autora o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras e a consolidou no cenário nacional, justamente por tocar em temas universais como o envelhecimento, a transitoriedade e a desintegração da identidade.

Em poucos versos, com uma leveza que desarma, Cecília nos obriga a encarar o eu-lírico que se olha no espelho e pergunta, quase com estranheza: “Em que espelho ficou perdida a minha face?” Prepare-se para buscar a sua resposta…



Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
A minha face?

Cecília Meireles em Viagem (1939)

“Retrato” ultrapassa a dimensão de um simples poema: é um espelho da condição humana, recordando-nos que o tempo não transforma apenas o rosto, mas também a essência de quem somos.

Não é apenas um lamento pela juventude perdida, mas uma reflexão profunda sobre o devir — conceito filosófico que expressa o movimento incessante da vida, a transformação contínua e inevitável que nos constitui. Ao retornar aos versos de Cecília Meireles, revisitamos nossas próprias mudanças e nos reconhecemos na delicadeza de sua voz poética…

E você, como interpreta o seu próprio retrato diante do tempo?


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