O texto que você está prestes a ler é uma das passagens mais impactantes e provocadoras da filosofia do século XX. O seu autor, Jean-Paul Sartre (1905-1980), foi um dos nomes mais influentes da filosofia do século XX. Escritor, dramaturgo e figura central do Existencialismo, revolucionou a forma como entendemos a condição humana, a responsabilidade e a liberdade.

Jean Paul Sartre, na Universidade de Freiburg, 1953. Foto de Willy Pragher, via Wikimedia Commons
O trecho a seguir pertence à obra O Existencialismo é um Humanismo (L’Existentialisme est un Humanisme), conferência apresentada em 1945 e publicada ainda naquele ano. O texto surgiu como resposta às críticas ao chamado “existencialismo ateu” e dialoga diretamente com sua obra fundamental O Ser e o Nada (L’Être et le Néant) , de 1943.
Desde então, a célebre máxima sartreana — “o homem está condenado a ser livre” — ressoou profundamente na filosofia, na política, na literatura e na cultura contemporânea. Mais que uma tese, é um convite a confrontar o peso da liberdade e a coragem necessária para assumir cada escolha que fazemos.
Sartre nos cutuca: somos livres sim, mas estamos prontos para carregar o peso de nossas escolhas?
Boa leitura! 📖
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Liberdade: uma condenação?
Por Jean-Paul Sartre
Dostoiévski escreveu: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. Aí se situa o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, fica o homem por conseguinte, abandonado, já que não se encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue.
Antes de mais nada, não há desculpas para ele. Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas.
É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio; e, no entanto, livre, porque uma vez lançado ao mundo é responsável por tudo quanto fizer. O existencialista não crê na força da paixão. Não pensará nunca que uma bela paixão é uma torrente devastadora que conduz fatalmente o homem a certos atos e que, por conseguinte, tal paixão é uma desculpa. Pensa, sim, que o homem é responsável por essa paixão.
O existencialista não pensará também que o homem pode encontrar auxílio num sinal dado sobre a terra, e que o há de orientar; porque pensa que o homem decifra ele mesmo esse sinal como lhe aprouver. Pensa, portanto, que o homem, sem qualquer apoio e sem qualquer auxílio, está condenado a cada instante a inventar homem…
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. In: SARTRE. Tradução de Vergílio Ferreira. São Paulo: Abril Cultural, 1973. P. 15 – 16. (Os pensadores)
Sartre nos lembra que a liberdade não é um conforto: é um peso, uma tarefa e uma convocação permanente à responsabilidade. Afinal, se somos condenados a ser livres, somos também autores — e não espectadores — da própria existência…
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