“Hino à liberdade” | Poema de Maria Firmina dos Reis

Falar de liberdade no Brasil é sempre revisitar feridas abertas e sonhos inacabados. Maria Firmina dos Reis, mulher negra, escritora e abolicionista do século XIX, ousou transformar dor em palavra e esperança em canto. Seu Hino à Liberdade não é apenas um poema: é um grito que atravessa o tempo, lembrando que a liberdade não se decreta, se constrói — e que ainda hoje precisamos escutá-la como convocação urgente. Ler Firmina é reconhecer que a literatura pode ser arma, memória e horizonte…



👑 Maria Firmina: O Grito da liberdade em verso

Maria Firmina dos Reis (1822–1917) foi uma escritora maranhense, abolicionista, educadora e a primeira romancista negra do Brasil. Em pleno século XIX — quando mulheres já quase não apareciam na vida pública, e mulheres negras muito menos — Firmina construiu uma obra literária ousada, crítica e profundamente humanista. Seu romance Úrsula (1859) é considerado o primeiro romance abolicionista da nossa literatura, publicado décadas antes da Abolição, oferecendo uma perspectiva inédita ao colocar pessoas escravizadas como sujeitos de afeto, dor, memória e dignidade.

Além de romancista, Firmina escreveu contos, compôs canções, lecionou em escola que ela mesma fundou e participou ativamente dos debates públicos de sua época. Sua obra só foi reconhecida de maneira ampla a partir do final do século XX, quando pesquisadores e pesquisadores negros a recuperaram como uma das grandes vozes fundadoras da literatura brasileira.


🖋👊🏿O “Hino à Liberdade”: poesia como gesto político

Entre suas composições, destaca-se o Hino à Liberdade, um poema-canto publicado originalmente na imprensa maranhense — especialmente no Diário do Maranhão, em 16 de março de 1889 — nos meses que sucederam a abolição oficial da escravidão. Diferente do tom nacionalista e triunfalista de muitos hinos do período, o texto de Firmina é íntimo e convocatório: ele celebra a liberdade recém-adquirida, mas também alerta para a necessidade de defendê-la, preservá-la e compreender que ela não se concretiza apenas por decreto…



📜 Hino à Liberdade — Maria Firmina dos Reis (1883/1889)

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Nós juramos defender-te,
Ó Liberdade sem igual!
Nossa vida a desprender-te
Da opressão brutal!

Não mais dor, não mais acasos,
Não mais lágrimas verter;
Quebrem-se todos os laços
Que nos possam subjugar!

Que o trabalho seja a escola
Da grandeza nacional;
Que o Brasil, que hoje se enrola,
Se levante afinal!

FIRMINA DOS REIS, Maria. “Hino à Liberdade”. Diário do Maranhão, São Luís, 16 de março de 1889.


🔥 Repercussão: um poema resgatado pelo tempo

Durante décadas, a obra de Maria Firmina — incluindo o Hino à Liberdade — ficou marginalizada, apagada tanto pelos preconceitos de gênero quanto pelos de raça. Somente nos anos 1970 e, sobretudo, a partir dos anos 2000, sua produção passou a ser objeto de pesquisas acadêmicas, reedições e celebração pública.

Hoje, o Hino à Liberdade é lido não apenas como documento histórico, mas como um gesto poético de enfrentamento, sensibilidade e esperança — um símbolo da resistência negra no Brasil. Sua força reside justamente na capacidade de convidar, ainda hoje, à reflexão sobre o que significa “liberdade” em um país profundamente marcado por desigualdades…


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2 comentários sobre ““Hino à liberdade” | Poema de Maria Firmina dos Reis

  1. Olá, gostaria de saber por que no hino da proclamação da república onde o principal refrão é de autoria de Maria Firmina dos reis nunca tem os créditos da autora, e também no enredo de muito sucesso da império serrano eles também não fazem nenhuma citação, me parece muito injustiça com a escritora.

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