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Qual é a utilidade da filosofia?
Essa pergunta atravessa séculos e continua provocando debates entre pensadores e curiosos: afinal, qual é o papel da filosofia na vida humana? Para alguns, como David Hume, ela parece distante das preocupações práticas do cotidiano. Mas, ao olharmos com atenção para a história do pensamento, percebemos que a filosofia não apenas se aproxima das questões mais fundamentais da existência, como também nos oferece ferramentas poderosas para compreendê-las com profundidade crítica.
Ao longo do tempo, diferentes filósofos responderam a essa pergunta de formas diversas — e reveladoras. Platão, Kant, Nietzsche, Wittgenstein, Simone de Beauvoir… cada um, à sua maneira, viu na filosofia uma forma de libertar, questionar, esclarecer ou transformar. Suas visões mostram que filosofar não é um capricho intelectual, mas um ato de coragem e lucidez diante da complexidade da vida. Confira abaixo a perspectiva de cada autor sobre a utilidade da filosofia:
Na famosa alegoria da caverna, Platão nos convida a sair da escuridão das aparências rumo à luz do conhecimento verdadeiro. Para ele, filosofar é despertar — é romper com ilusões e preconceitos impostos pela cultura e pela tradição. A filosofia, nesse sentido, é um caminho de libertação.
Séculos depois, Kant reforça esse papel libertador ao afirmar que o esclarecimento é “a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado”. Para ele, a filosofia nos ensina a pensar por conta própria, sem depender de autoridades externas. É um exercício de liberdade e responsabilidade racional.
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Nietzsche, sempre provocador, via na filosofia uma força capaz de abalar certezas e reinventar sentidos. Em Além do Bem e do Mal, ele propõe a “transvaloração de todos os valores”, mostrando que filosofar é questionar tudo — inclusive aquilo que tomamos como verdade absoluta.
“A filosofia é um tipo de febre espiritual, uma paixão que nos obriga a criar valores.”
Nietzsche em Além do Bem e do Mal (1886)
Para Ludwig Wittgenstein, a filosofia serve para esclarecer o pensamento e dissolver confusões conceituais. “O objetivo da filosofia é a clarificação lógica dos pensamentos”, escreveu ele. Tornar o pensamento mais claro é, para ele, uma forma de compreender melhor o mundo — e a nós mesmos.
Simone de Beauvoir mostrou que a filosofia também pode ser uma ferramenta de libertação social. Em O Segundo Sexo, ela revela como as estruturas de opressão se naturalizam — e como podemos desafiá-las. A filosofia, nesse caso, tem um papel ético e político crucial: denunciar a opressão e abrir caminhos para a liberdade.
“Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre.”
Essa citação, embora mais poética, sintetiza o espírito da filosofia de Beauvoir: pensar é resistir, é libertar-se das estruturas que nos oprimem.
O poder transformador da filosofia
A utilidade da filosofia não está em oferecer respostas prontas ou aplicabilidades técnicas imediatas, mas em cultivar a consciência crítica, a autonomia da razão, a coragem de questionar e a sensibilidade para compreender a complexidade da existência humana. É ela que nos permite pensar o mundo não apenas como ele é, mas como ele poderia ser — e isso, por si só, é profundamente transformador.
Portanto, a filosofia não serve para dar respostas prontas — e talvez aí esteja sua maior força. Ela nos ensina a pensar com autonomia, a questionar o que parece óbvio, a imaginar outros mundos possíveis. Em tempos de pressa e superficialidade, filosofar é um gesto radical de lucidez e resistência.
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